segunda-feira, 10 de maio de 2010

Hey, Mãe!

Nove de abril de dois mil e dez, segundo domingo de maio, o tal Dia das Mães.
Sinto cada vez mais que as coisas mudaram...

Quando criança, o Natal é esperado como um dia de paz. A virada do ano é a promessa de uma vida melhor. O carnaval é, realmente, tempo de festa pra uns e descanso pra outros. A Páscoa? A Páscoa tem um "quê" de data séria, mas, no fundo, no fundo, criança quer mesmo é muuuito chocolate. Entre outros feriados pós Semana Santa, chega o Dia das Mães... Criança não costuma encarar como feriado, porque é domingo mesmo. Então, ser ou não feriado não faz muita diferença... Mas esse dia é aguardado e guardado pela criança para homenagear aquela pessoa que tanto a ajudou. O filho mais novo passa a semana inteira pedindo que o pai não esqueça de comprar aquela jóia para mãe e aquele perfume para a vovó, porque elas são as rainhas das vidas deles. E só sossega quando tem os presentes embrulhados e escondidos em algum lugar da casa. Já o filho mais velho, sai sábado à noite, chega às cinco da manhã do domingo, sequer acorda cedo pra tomar café com a mãe e ainda reclama quando o pai lembra que o almoço é no sítio dos avôs... Mas por que toda essa mudança, se um dia ele fez tudo o que o irmão está fazendo?
O fato é que quando se cresce a magia de algumas coisas é perdida. Todo o encanto de algumas datas comemorativas, por exemplo, pra onde foi? Hoje, Dia das Mães. Família reunida teve. Presentes também. Aquele almoço. Aquela oração. A tia chata. O tio contador/ criador de histórias. Mas por que não vejo mais esse dia como via há dez, cinco anos? Todos os chamados “problemas de família” não existiam? Pensando muito bem, concluo que sim. Mas se já existiam o que torna os encontros de família cada vez menos esperados? Penso que a adolescência carrega consigo aquele ar de desconfiança, de interrogações... A criança crescida quer então entender o porquê de uma intriga entre tios, do choro escondido da mãe, das brigas frequentes dos pais, da diminuição da mesada, das férias prolongadas do pai, do verdadeiro motivo da separação do tio... Quando entramos nessa fase mil indagações são feitas. E muitas vezes feitas para pessoas “erradas”, o que pode resultar em respostas indevidas / incorretas / absurdas e, claro, em terríveis conclusões.
É na adolescência que muitas dúvidas são esclarecidas e muitas mentiras são desvendadas. O que pode acarretar jovens revoltados ou “simplesmente” desacreditados. É como se, de repente (ou não tão de repente assim), o mundo deixasse de ser cor-de-rosa. É na adolescência também que o jovem, enquanto estudante e ser social, tem à sua frente o tão temido vestibular. Ele descobre, aqui, que existem mais pessoas com intenções ruins do que imaginava. É nessa fase também que conhece o cruel mercado de trabalho. Ele descobre uma sociedade problemática, massacrada por um sistema e à mercê da própria sorte. Ele começa a caminhar sozinho... Esperou tanto por esse dia... Mas, hoje, nota que era bem melhor quando podia apertar a mão do pai quando ficava com medo do elevador. Passa a olhar com os próprios olhos pessoas que sobrevivem de restos de comida, roupas, panelas... Ele vê que, agora, ou começa a construir um profissional ou terá um futuro nada brilhante. Percebe que não poderá contar com quem mais apoiou... Que não deveria ter confiado tanto em alguém.. Que "as nuvens não eram de algodão.../que os ventos, às vezes, erram a direção", como musicou Humberto Gessinger. Ele deve se sentir na "Terra de Gigantes " também do "Engenheiro":

♪♫♪“...Hey mãe!
Eu tenho uma guitarra elétrica.
Durante muito tempo isso foi tudo
Que eu queria ter.
Mas, hey mãe!
Alguma coisa ficou pra trás.
Antigamente eu sabia exatamente o que fazer...
...Mas, hey mãe!
Por mais que a gente cresça,
Há sempre alguma coisas que a gente
Não consegue entender...”♪♫♪

A juventude é mesmo uma fase de muitas quedas, fase de desmascarar muito do que foi omitido por toda a vida. Então, a partir daí, já não importa tanto se a mãe preparou ou não aquela deliciosa torta de chocolate, brigadeiros e refrigerante, e chamou os amigos para comemorar o aniversário de 17 anos. Se houver festa, ele brinca, sorri... Mas caso nada aconteça ele tinha mesmo que adiantar o conteúdo de química. Afinal, só faltam alguns meses para o vestibular. E aqueles amigos nem são tão amigos assim... (Ele esquece que foi com essas pessoas que comemorou 16 aniversários...). E, assim, todas as datas vão perdendo o brilho que tinham nos velhos e bons tempos de infância... À noite, antes de dormir, a mente o leva longe. Ele queria acordar e enxergar o mundo com os mesmo olhos de quanto tinha nove anos, mas isso não é possível. E pelo andar da carruagem nunca será. Não que ser adulto signifique ser infeliz, não acreditar, não sonhar. Mas a amadurecimento  geralmente torna as pessoas cautelosas. E cautela excessiva costuma impedir atos impensados / impulsivos. O que pode privar alguém de dias felizes, mas pode evitar frustrações...
Acontece que o Natal não tem mais toda aquela emoção, que a homenagem de Dia das Mães já não é preparada com ansiedade e amor, que não existe mais Dia das Crianças nem Papai Noel. Que o aniversário é um dia de aula, de trabalho quase que como outro qualquer... O que há, agora, são responsabilidades, responsabilidades e responsabilidades. É tempo curto e atividades excessivas. São verdades dolorosas e mentiras necessárias. Todo esse blá, blá, blá em torno da importância das datas comemorativas é uma tentativa de mostrar que a mudança ocorre no todo. A metamorfose acontece no modo de ver e viver o mundo e as coisas deste mundo. Quando se tem seis anos é fácil sentir medo da imagem abaixo:


Para um adulto, a imagem de um chapéu. Para uma criança, um elefante engolido por uma jibóia. Como traz Antoine de Saint-Exupéry, n’O Pequeno Príncipe.

Quando se é criança até plantar feijão no algodão mexe com o imaginário da gente. Olhar as nuvens no céu nos faz enxergar objetos que somente são visíveis aos olhos de alguém com alma de criança. Mas, claro, crianças são crianças. Elas têm tempo livre, não viveram tantas decepções. A intenção aqui não é que se viva num mundo de fantasia. Contudo, é mesmo impossível “acreditar por um instante em tudo que existe; e acreditar que o mundo é perfeito, que todas as pessoas são felizes...”? Todo ano será a mesma coisa? É tão difícil assim ser dizer que ama e amar a família? É tão complicado ser feliz na simplicidade? É de fato necessário que se ganhe mais dinheiro?
Como diz Renato Russo, nesta mesma canção:

♪♫♪“Quem me dera
Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Quase sempre se convence
Que não tem o bastante...” ♪♫♪

A menos que "ter mais" seja ter mais amor, carinho, momentos de paz, cultivar amizades, ajudar pessoas, buscar ser mais enquanto gente... Enfim, semear amor e vida, concordo plenamente com o poeta.


O meu pensar, misturado aos fatos da vida juvenil...
Talvez não tenha saído com a ideia inicial,
mas fica a mensagem...
Aquela que procuro firmar por onde quer que eu passe:
Amor. Amor ao próximo.

Até mais! (:

2 comentários:

  1. Adoro esses posts que começam de um jeito e se perdem no meio do caminho, rumando pra outro assunto. Sério, gosto mesmo. A gente percebe a ligação que há entre as coisas.
    Putz, datas comemorativas nunca me foram tããão especiais. Mas realmente, quando a gente é criança, sempre tenta das um valor à mais pra essas coisas.
    Fiquei super-feliz de ter lido o post descendo a barra de rolagem e ter visto primeiro a imagem sem a explicação. Eu vi a cobra comendo algo. Não pensei em elefante, mas vi uma cobra, com olho e boca. ^^
    É sempre bom ter a criança em si mesmo. Ajuda tanto a encarar a verdade desse mundo frio e triste...
    Esse post combinou com meu dia, achei muito legal mesmo. Com sinceridade. E é bom concordar com a namorada sem fazer esforço. ;)

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  2. Ahhhhh..Ao começar a ler, lembrei de algumas conversas da dita " nossa adolescência", do teu jeito e da minha mania de mesmo vendo tudo dando errado ainda querer ver "o lado positivo das coisas".

    Concordar com Clécius que diz que "é sempre bom ter uma criança em si mesmo".
    Lindo Rena!

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