sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Não era um bicho, era um menino

Hoje, me peguei lembrando de um episódio por mim vivido há algum tempo. Eu tinha 8 ou 9 anos, estava na escola; a aula era de Ética e Cidadania; nunca esqueci que, naquele dia, a professora trabalhou um poema de Manuel Bandeira.



"Vi ontem um bicho

Na imundice do pátio

Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa;

Não examinava nem cheirava:

Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,

Não era um gato,

Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem."

Naquela ocasião, eu e meus colegas de turma ficamos perplexos. Não que desconhecéssemos a existência de pessoas que vivem de lixo, contudo, pra mim, enquanto criança, não era comum debater sobre um tema tão forte. Mamãe e vovó sempre diziam: "Menina, coloque no prato apenas o que for comer!" ... Depois daquela discussão em sala de aula, eu devo ter ficado mais cuidadosa quanto à quantidade de comida que era colocada no meu prato...

Hoje, 14 de outubro de 2010, uns dez anos depois de minha primeira leitura de "O Bicho", tive que presenciar uma daquelas cenas que, pra mim, sempre foram e sempre serão tristes e revoltantes. Era quase oito da noite. Eu terminava um lanche no conhecido Sousa do Centro Histórico de São Luís, quando um menininho de 6 ou 7 anos sentou à mesa em frente a minha - o olhar melancólico me partiu o coração - parecia esperar que alguém o oferecesse alguma coisa. Ele não catava comida entre os detritos, mas seu rosto triste parecia implorar por socorro.



Naquele momento, devo ter pensando em meu irmão, que tem 9 anos, e estava em casa, provavelmente assistindo tv ou jogando alguma coisa no computador, após ter feito alguma atividade da escola e jantado. Quando eu chegasse em casa, ele me abraçaria, me contaria alguma novidade e iria dormir, alegre, descansado e bem alimentado. E assim foi...

Quando vejo esses meninos, é que páro pra pensar o quão injusto é o sistema. Eu que não sou rica me pego com uma sensação de alívio, por nunca ter faltado comida em casa e de impotência, por nada poder fazer por pessoas como aquela pequenina que estava ali a minha frente . O que eu poderia ter feito? Eu não posso levá-lo comigo, pagar um lanche talvez resolvesse a fome, maaas... E amanhã? Eu fico triste, revoltada... Eu imagino quanta comida, quanta roupa, quanta oportunidade muita gente por aí joga fora... Eu me revolto um pouco mais... Volto pra casa, pra minha vida normal.

Amanhã sei que vou encontrar outros meninos como o de hoje... Alguns mais crescidos, outros até menores que aquele. Mas todos tão melancólicos e famintos quanto. E a fome deles não é apenas de pão e água, eles precisam de atenção, cuidado; eles precisam de respeito, de dignidade. São crianças com a infância roubada... São crianças que foram obrigadas pela própria vida a sofrer com as imposições de um sistema que tira a dignidade de uns em prol do glamour de outros.

E assim a vida vai passando...






























quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ainda hoje, a vida

Espero nunca me acostumar a certas coisas...
Que eu não ache normal passar horas pra chegar em casa,
 porque o trânsito estava congestionado.
Que eu não me acostume a trancar as portas dentro de casa,
 pra desabafar via mensagem instantânea com alguém que sequer é possivel tocar.
Que eu prefira frutas ao suco artificial "com sabor de fruta".

Espero nunca me acostumar a ver um jogar no lixo algo que mil outros lutam todos os dias pra conseguir.
Que eu saiba respeitar a dor alheia.
Que eu aprenda com os meus erros e também com os erros de outros.

Eu espero nunca me acostumar com a indiferença de alguém.
Espero saber quebrar o silêncio que incomoda...
Porque a gente se acostuma a calar pra não magoar, a não sorrir por uma mágoa antiga.

Eu espero nunca me acostumar a ver a vida passar.

Que eu prefira a luz solar e as janelas abertas ao ar-condicionado e cortinas.
Que eu não fique com raiva do sol, porque eu queria chuva ou da nuvens, porque eu queria o sol.

Que eu saiba lutar por aquilo em que acredito.
Mas saiba compreender algumas verdade sem que eu me acomode. 


Eu espero aprender a viver antes que venha a morte.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Pra depois(*)



Quase três meses sem uma novidade por aqui. Isso é consequência da mais pura preguiça. Em julho,um amigo fez um elogio, porque eu estava postando com uma certa frequência. Eu devo ter respondido: "Não elogia, que estraga!" E não é que estragou?? :/
Tantas coisas aconteceram. Ideias com certeza não faltaram. Talvez não tenha sobrado tempo. Mas a disposição... Ah, esta sumiu!
Eu prometo a mim mesma - agora, publicamente - que ainda esta semana coloco as ideias no papel. Prometo, prometo, prometo escrever qualquer coisa útil. 
Sim, estou deixando pra depois e dando satisfação a mim mesma.


Até breve!
 
 (*)Trecho da música "Semana que vem", de Pitty